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Hip Hop como meio de integração

Ana Magalhães, O Primeiro Janeiro [2007-02-21]

A associação Sementes de Rua foi criada há três meses para mostrar que a cultura Hip Hop nada tem a ver com vandalismo ou deliquência. Os fundadores pretendem comprovar que pode ser um modo de integração social e têm na calha vários projectos a implementa

«Deejaying, breakdancers, graffiti e b-boys» são estrangeirismos menos perceptíveis para leigos, mas palavras comuns para os seguidores do Hip Hop, uma cultura ainda pouco divulgada no Grande Porto. Cientes que é possível contrariar esta tendência, um grupo de jovens adeptos do Hip Hop criou a associação sem fins lucrativos Sementes de Rua, com o apoio da Fundação Filos, e em apenas três meses conseguiu estabelecer parcerias de modo a dar a conhecer esta cultura e mostrar que nada tem a ver com vandalismo ou deliquência.
Um dos primeiros parceiros candidatos a receber os serviços da Sementes de Rua foram os escuteiros do Agrupamento 228 Senhora da Conceição, com sede nas traseiras da Igreja do Marquês. Em troca da cedência de quatro telas de 2,75 metros por 1,50 metros e dezenas de latas, retrataram com as técnicas de graffiti imagens ligadas ao Carnaval. O resultado deste trabalho, acompanhado pelo JANEIRO, foi uma decoração urbana muito colorida e com traços semelhantes aos que se fazem ilegalmente nos muros das cidades. A diferença é que, desta vez, é numa sala de escuteiros com vocação católica.

“Basicamente o que queremos é uma oportunidade de mostrar o que fazemos”, explicou o presidente da associação, Hugo Peixoto, salientando a importância de encontrarem parcerias com as mais variadas associações. Em tão pouco tempo de trabalho, reconhece que não tem a apontar experiências negativas a este nível e alerta apenas para a pouca disponibilidade que têm sentido por parte de instituições públicas. “Por exemplo a abertura das autarquias é maior fora dos grandes centros. Um bom exemplo é Vila Real, onde a câmara cedeu um skateparque para grafitar. Conclusão: é das cidades menos riscadas”, referiu o responsável.

Nas traseiras da Igreja do Marquês o lema também é não sujar, mas deixar uma visão pessoal do que é o Carnaval. Para este projecto Nuno Costa explicou que partiu de uma fotografia com duas máscaras, mas assim que pegou na lata e começou a desenhar os primeiros traços tornou a imagem mais pessoal. “Se fosse para copiar a realidade, aumentava-se a foto ao máximo”, argumentou, insistindo que uma das motivações dos artistas de aerossol é poderem deixar as suas marcas em cada trabalho que fazem.

Com um fato de corpo inteiro para proteger a roupa e máscara contra filtros tóxicos colada à cara, Nuno Costa acrescentou que, neste caso, o Agrupamento 228 Senhora da Conceição também sai a ganhar porque fica com telas pintadas que, se fossem pagas, custariam cada uma cerca de 250 euros, um valor que não terá sido gasto com a aquisição do material. Ao som do Hip Hop, este writer, como gosta de ser chamado, desabafa ainda que se mais associações se entendessem através de parcerias, “seria tudo mais fácil”.

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Projectos da
Sementes de Rua
Ainda que a Sementes de Rua tenha sido constituída como associação sem fins lucrativos há apenas três meses, são já vários os projectos desenvolvidos pelos membros, alguns ainda antes de a associação ter sido formalizada. Nos trabalhos que fizeram nascer a instituição contam-se ateliês no Bairro do Cerco e do Largateiro, na Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental e na Secundária do Castêlo da Maia. Neste estabelecimento de ensino também realizaram um mini-concurso com atribuição de prémios que serviu de reforço positivo para os alunos. Na calha está a realização de mais sessões que explorem as diversas vertentes do Hip Hop, outras artes como o malabarismo ou desportos como o skate. A ligação com a Fundação Filos poderá ser importante na definição de públicos mais carenciados e que se adaptam a esta estratégia de integração social.

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