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Ficha de Edifício

Arco ou Porta de Sant'Ana

Edifício

Endereço:

Rua de Santana (à Sé)

4050 Porto

Este Arco ou Porta de Sant'Ana das Aldas, um dos quatro das primeiras fortificações do velho burgo episcopal do Porto, celebrado e para sempre imortalizado pelo Visconde de Almeida Garrett, no seu romance histórico "O Arco de Sant'Ana", erguia-se outrora, quase a meio da rua do mesmo nome, e ao cimo da encosta que o seu corte em rocha ali forma, no trajecto para o Largo das Aldas, onde até meados do século XVI se erguia a desaparecida picota dos bispos, singela e alta coluna de granito, com seis ou sete argolas de ferro chumbadas ao redor e encimadas por um agudo espigão do mesmo metal, tudo isso firmado em quatro degraus de pedra toscamente lavrada.

O Arco era de singela arquitectura, sem o mínimo gravado ou escultura na sua frontaria ou abóbada; no entanto o seu carácter e a sua feição especial, contribuiam poderosamente para dar à vetusta rua, toda calcetada por pequenas lages raiadas longitudinalmente a cinzel, um tom sobremaneira gracioso, pitoresco e original, que ainda hoje, à simples vista do seu desenho se compreende e avalia, e se vê bem quão errada e desastrosa.

O Arco de Sant'Ana era estreito, um pouco tortuoso e alto, se bem que devido à estreiteza e acidentado da rua é a forma curvilínea por que está traçada, a impressão que se recebia era de menos elevação do que aquela que em verdade tinha; e pelos restos da arquitectura ogival que nele ainda se notavam, via-se bem que a sua construção ou talvez melhor dizendo, rompimento, não podia ir além da época em que o rei D. Fernando I, para captar as simpatias da cidade após o seu casamento com a célebre D. Leonor Telles, ordenara a continuação das obras de fortificação do Porto. Com o andar dos tempos e talvez devido à devoção que os habitantes da cidade tributavam à imagem a que o haviam consagrado, esse Arco tinha passado por diferentes transformações.

Foi assim que por entre as ameias que outrora lhe guarneciam o cimo, lhe construiram, das casas do lado direito da rua e em direcção à parede do lado esquerdo da mesma, uma espécie de passadiço de paredes de granito e coberto de telhado, com uma larga janela quadrada, moldurada e envidraçada, do lado da rua da Bainharia, e um pequeno postigo igualmente guarnecido, do outro lado da rua de Sant'Ana.

A janela e o postigo denunciavam a sua configuração e emoldurados, terem sido executados em fins do século XVII e os restos das ameias que ainda se divisavam por baixo do passadiço, eram anualmente procurados pelas andorinhas, que ali se anichavam durante a primavera e verão.

Quanto ao Arco, esse havia sido, em época desconhecida, inteiramente revestido pela parte interior e exterior, dos dois lados da rua, com cal e gesso, que de tempos a tempos se renovava, pintando-se-lhe por cima, a amarelo dourado, verde e vermelho, diferentes ornamentos.

Pela parte inferior e na parte da abóbada, ainda se lhe notavam, se bem que tapadas, umas aberturas por onde certamente se descia, em caso de necessidade, grades de ferro ou madeira, ainda reforçadas por portas a meio do arco, das quais se divisavam os vestígios de buracos de ferrolhos, ou de passagem de trancas.

Ao lado esquerdo do arco e num nicho ou oratório esguio e alto, guarnecido com uma moldura ou guarnição de estilo denunciativo dos fins do século XVIII, é que se achava colocada a imagem de Sant'Ana que dera ao nome à rua e ao Arco.

O oratório, em cuja cimeira e numa espécie de escudete se achava gravada esta inscrição: «S. Anna succure miseris», era aberto na espessura de uma sólida e alta parede de cantaria que flanqueava o Arco, e que talvez noutros tempos fosse uma das faces de alguma torre defensora da porta, e que posteriormente desapareceu, ou mesmo se confundisse no interior das paredes do prédio contíguo.

E do outro lado era de crer que fosse defendida de igual maneira. Pelo menos, a casa nºs 156 e 158 da velha Rua dos Mercadores, edificada em correspondência com a altura em que se erguia o Arco, e conhecida ainda hoje pelo nome de Casa da Torre, faz-nos supor que não teve outra origem, nem outro motivo de designação.

O nicho ou oratório era envidraçado, e ao redor dele pendiam inúmeras velas e outras promessas de cera, quadradinhos com descrições dos milagres, etc. - e frente à imagem, pendente de um pequeno varão de ferro, um lampião de azeite que ali ardia dia e noite, sempre custeado pela dedicação das mulheres da cidade que consagravam de longa data à Senhora Sant'Ana do Arco uma especial devoção.

Por baixo de oratório havia uma espécie de altar estreito, em cujo interior se arrecadavam diariamente as esmolas das devotas, e se guardava o azeite que quase quotidianamente ali iam levar, e que na maior parte se destinava à sustentação da luz do lampião acima referido. No alto do nicho havia uma sanefa de madeira dentada, lavrada e pintada a azul.

Como já dissemos acima, o Arco de Sant'Ana das Aldas era uma das quatro portas da velha cidade do Porto, talvez mesmo um postigo aberto no extremo da muralha do lado norte, que nesse ponto quebrava em direcção ao sul, correndo em seguida pelas trazeiras da antiga Rua dos Mercadores, paralela à de Sant'Ana.

O Arco começou a ser demolido em 2 de Junho de 1821, a requerimento de Manoel Luís da Silva Leça, que do lado direito construira ali uma casa, e António Joaquim Carvalho, proprietário na mesma rua.

A imagem da Santa foi, sob o estandarte da irmandade dos sapateiros, curtidores, surradores e correeiros, conduzida na tarde de 29 de Junho de 1821, em procissão e em magnífico andor, pelos mestres que nesse ano eram juizes ou tinham assento na Casa dos Vinte e Quatro (em que estes ofícios gozavam do direito de banco), para a capela de S. Crispim, e aí colocada em altar especial.

Como porém esta capela e a sua anexa Albergaria dos Palmeiros, ambas situadas ao cimo da rua de S. João, fossem demolidas nos fins do século passado, para corte da actual Rua Mousinho da Silveira, foi outra vez conduzida a imagem para a nova capela que a irmandade de S. Crispim mandou edificar no alto da Rua de S. Jerónimo, e ainda ali se conserva em altar próprio, suposto que inteiramente ignorada ou ingratamente esquecida de quase toda a gente.

Como recordação da Santa, não ficou no lugar mais do que uma reduzida imagem, metida num pequeníssimo santuário de madeira envidraçada, que ainda actualmente se vê, pendurado ou cravado na parede, junto às escadas de pedra que da Rua de Sant'Ana dão comunicação para a Rua de Pena Ventosa.

Tanto a imagem de Sant'Ana do Arco, como de Nossa Senhora, que tem a seu lado, e o Menino Jesus, que ambas graciosamente sustentam entre si, são todas de preciosa escultura, e o mesmo se dá com o grupo dos oito querubins que, por entre rolos de nuvens, lhes rodeiam as fímbrias dos vestidos.

A escultura de todo o grupo de imagens, bem como as valiosas coroas e resplendores de prata que as guarnecem, são tudo obras dos fins do século XVII e portanto da época muito posterior aquela que descreve Garrett, que tanto neste ponto, como na restante descrição que nos faz de diferentes detalhes do Arco e suas vizinhanças, caiu no erro de admitir como já existentes nos princípios do século XIV, e reinado de Pedro o Cruel, obras indiscutivelmente de épocas bem posteriores.

 

 

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